Trouvé sur un blog, cette curiosité en portugais :
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"Toutes Les Chansons Ont Une Histoire" será uma seção do blog em que, como o nome diz, nós contaremos a história de uma canção, começando por "Manhattan-Kaboul", um sucesso de 2002 escrito pelo cantor Renaud e interpretada em duo com Axelle Red.
Uma das críticas que os detratores do Victoires de la Musique têm feito ao evento nos últimos anos é que hoje em dia as músicas vencedoras na categoria de "Canção do Ano" já não marcam verdadeiramente a França como antigamente. Algumas passam mesmo completamente despercebidas pelo público e pelas rádios, coisa que não acontecia há alguns anos como, por exemplo, em 2002, quando foi lançada "Manhattan-Kaboul". Mas se a música foi apresentada no início dos anos 2000, a origem é bem mais antiga.
Na verdade, o compositor Jean-Pierre Bucolo já tinha a melodia guardada há muitos anos, o problema é que o cantor Renaud Séchan, que tinha sido encarregado da letra, ainda não havia conseguido encontrar nenhum bom tema para desenvolver a partir dela. De qualquer forma, a princípio, a ideia era que a canção fosse escrita em inglês e tivesse como título "I Get on the Bus" ou "Devil on Me" e, enquanto aguardava uma inspiração de última hora, Bucolo achou melhor gravar a música para que ela já estivesse pronta quando o amigo Renaud aparecesse com o texto.
Naquela época, fazia quase sete anos que o intérprete não apresentava nenhum álbum e apesar de ter lançado um disco de reprises em homenagem a Brassens e um outro com títulos raros, seu último verdadeiro álbum original, gravado em estúdio, datava de 1994, e o público estava ansioso pelo seu retorno. Para acalmá-lo, ele fez uma turnê de outubro de 1999 a março de 2001 intitulada "Une guitare, un piano et Renaud" em companhia dos amigos Alain Lanty e Jean-Pierre Bucolo, seus melodistas fetiche.
No plano pessoal, o artista estava no auge do vício em drogas e álcool, vivendo um período de decadência física e vocal que se acentuou quando a mulher pediu o divórcio, levando com ela a filha. A separação brusca inspirou duas canções: "Boucan d'enfer", em homenagem à ex-mulher, Dominique, e "Elle a vu le loup", um tributo à filha, as duas únicas canções inéditas que ele interpretava nos shows.
Um dia, um amigo gay lhe pede que escreva uma canção sobre os homossexuais, e Renaud compõe "Petit pédé". Ao escrevê-la, ele percebe que ainda é capaz de fazer uma boa letra como outrora, antes de ser consumido pelo vício, e começa a produção daquele que será o seu novo álbum, "Boucan d'enfer". Uma dezena de letras saem rapidamente e ele as estrega aos amigos Lanty e Bucolo para que trabalhem a melodia.
Mas a canção mais enigmática do disco, a responsável pelo álbum que venderia mais de dois milhões de exemplares naquele ano, surgiria depois, no canapé do estúdio em Bruxelas, cidade onde morava...Axelle Red. Indignado com o atentado de onze de setembro mas também com a revanche americana, o artista decidiu escrever uma canção sobre a história de um porto-riquenho morando em Nova York, que sai para a jornada de trabalho numa das torres do World Trade Center, e uma moça afegã que vive sob o jugo do regime Talibã. Os dois não são namorados, nem ao menos se conhecem, mas tiveram os caminhos cruzados quando morreram vítimas da mesma causa: a barbárie humana. Ele, quando um avião atinge as torres do WTC; ela, quando uma bomba americana destrói a vila em que morava.
Desde o princípio Renaud formulou a canção pensando em interpretá-la em duo. A música estava pronta, faltava apenas a parceira. Ele interpretaria o porto-riquenho, mas quem cantaria a afegã? Ele sabia que há alguns passos do estudio morava Axelle Red, que também já havia escrito uma canção sobre o 11 de setembro (Venez vers moi), onde critica o fanatismo religioso, seja ele cristão, judaico ou muçulmano. Além disso, "há quatro ou cinco anos Axelle é a minha cantora francófona favorita. Ela tem charme, textos simpáticos e um universo musical", declarou ao site Télémoustique. Por último, os dois eram da mesma casa de discos, EMI. O vento parecia soprar a favor de Axelle Red.
O álbum lançado em março de 2002 vende mais de dois milhões de exemplares, um fenômeno, mesmo para a época anterior a esta crise que vivemos hoje; e a canção, que sairá em julho do mesmo ano, marcará todo o verão francês, porque a música caiu no gosto da rádio NRJ, que a difundiu largamente naquele ano. Há vinte anos que ela não apreciava tanto uma canção de Renaud! Um sucesso que se estenderá para o ano seguinte pois ele será premiado no Victoires de la Musique (Melhor Cantor e Melhor Canção por "Manhattan-Kaboul") e no NRJ Music Awards (Melhor Canção e Melhor Duo).
Mais do que um grande sucesso, "Manhattan-Kaboul" provou que apesar do álbum "Boucan d'enfer" ser o mais pessoal dos álbuns de Renaud Séchan, ele não conseguiu deixar de lado o engajamento social que sempre o caracterizou. Pelo contrário, apesar do subjetivismo, o cantor continuava ainda bem político.